Surtos de Helicoverpa pressionam lavouras da Intacta já no início da safra 2022-23
A recomendação é intensificar o monitoramento das lavouras
Por: AGROLINK & ASSESSORIA
Publicado em 14/12/2022 às 13:42h.
A forte pressão de lagartas do gênero Helicoverpa em lavouras de soja Intacta de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e do Maranhão chama a atenção de produtores e pesquisadores. O clima seco que tem atingido essas áreas, dizem especialistas, influencia diretamente no aumento da presença de lagartas na fase inicial da oleaginosa. Embora as infestações ainda não tragam motivo para pânico, enfatizam fontes, faz-se necessário ao produtor, neste momento, não descuidar do monitoramento das plantações.
Conforme o pesquisador Germison Tomquelski, da Desafios Agro, sediada em Chapadão do Sul (MS), populações significativas de Helicoverpa foram detectadas em diferentes pontos de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, tais como as regiões da BR-163, do Vale do Araguaia, de Campo Verde e Rondonópolis. “A presença das lagartas é representativa e está exigindo aplicações de inseticidas no começo da safra”, resume Tomquelski.
“Estamos diante de um cenário diferente este ano. É possível que seja uma tendência a ocorrência mais intensa de Helicoverpa na soja Intacta. Trata-se de um grupo de pragas polífagas, que se multiplicam no sistema de produção. Pode ser mais desafiador lidar com elas daqui para a frente”, salienta. Segundo ele, ainda não se sabe se as populações predominantes da praga observadas no MS e no MT constituem Helicoverpa armigera, Helicoverpa zea ou híbrida.
Para Tomquelski, a aplicação de inseticidas, biológicos ou químicos, deve ocorrer preferencialmente quando as pragas estiverem no estágio inicial de desenvolvimento. “Em lagartas de 1º e 2º instar, bioinseticidas como os baculovírus mostram eficácia de controle da ordem de 90%. Nas lagartas maiores, recomendamos integrar inseticidas químicos ao manejo.”
‘Escape de lagartas’
“Consideramos fundamental o produtor se antecipar ao problema, através do monitoramento, e ter ferramentas adequadas à mão no momento certo de partir para o controle”, reforça Guilherme Ohl, pesquisador da Ceres Consultoria, da mato-grossense Primavera do Leste. Ohl adianta que, recentemente, percorreu o estado e constatou pressão de Helicoverpa acima da média, para este período da safra, em lavouras “do Parecis ao Xingu”.
Ainda em relação ao controle de Helicoverpa, Ohl entende que “uma tecnologia deve defender à outra”. “Baculovírus são fundamentais dentro do manejo integrado de pragas (MIP), assim como os químicos, as ‘armadilhas’”, pondera ele. “Ideal é iniciar o tratamento selecionado, dependendo da lavoura, quando o monitoramento apontar a presença média de uma Helicoverpa por metro, na fase vegetativa da soja e de ½ lagarta do gênero, por metro, na reprodutiva.”
Entretanto, de acordo com Guilherme Ohl, nos dias de hoje, “o maior medo” dos especialistas é o de que outras espécies de lagartas, além da Helicoverpa, “estejam ‘escapando’ ao controle das tecnologias Intacta”.
“Nas últimas duas safras, a Helicoverpa zea escapou do milho, foi para o algodão e este ano vemos a pressão ocorrer na soja”, adverte ele. “Notamos ainda aumento populacional de lagartas Spodoptera frugiperda, Heliothis virescens e Rachiplusia nu. Possivelmente, há uma adaptação dessas pragas às tecnologias de soja Bt, que ocupam 86% da oleaginosa plantada no país.”
Já na região de Balsas (MA), onde atua o engenheiro agrônomo e consultor Octavio Augusto Queiroz, da Evoterra, o início da safra de soja tem sido marcado por surtos de Helicoverpa spp. “Temos aumento da pressão de lagartas há dois anos aqui. Acreditamos que isso venha da correlação entre pragas do milho safrinha e da soja. É possível que esse cenário se agrave nos próximos anos.”
Gerente técnico da AgBiTech Brasil, o engenheiro agrônomo Marcelo Lima avalia que os surtos de Helicoverpa no início da safra, bem como a resiliência de lagartas ante às biotecnologias, geram preocupação, ainda que o cenário se mostre menos grave ante o de 2013 e 2014, quando a Helicoverpa armigera causou prejuízos em série. “Hoje contamos com ferramentas de manejo mais eficazes, de inseticidas químicos a biológicos até atrativos para mariposas.”